FONTE: Para onde vai o lixo?
Crédito da Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil |
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Para onde vai o lixo?
Saiba o que acontece com o lixo produzido em São Paulo, que não possui mais aterro próprio
Letícia de Almeida Alves
Casa Sustentável – 09/2010
Você pode não saber, mas a maior cidade do país não tem onde depositar o lixo doméstico e comercial de seus mais de 10 milhões de moradores. A metrópole está sem aterro próprio desde novembro de 2009. Atualmente, a prefeitura se vale de dois depósitos privados, nos municípios de Guarulhos e Caieiras, para descartar 12 mil toneladas diárias, a um gasto mensal de R$ 6,6 milhões aos cofres públicos. Casa Sustentável – 09/2010
O último aterro em funcionamento, o São João, localizado em São Mateus, zona leste da capital, possui uma montanha de 28 milhões de toneladas acumuladas ao longo de seus 17 anos de funcionamento. Sua manutenção pelos próximos 20 anos inclui a queima de gás metano (hoje são 18 mil Nm³ por hora), iniciativa que gera créditos de carbono para a prefeitura e para a Biogás Energia Ambiental, e ainda o transporte diário de quase 6 mil toneladas de chorume para tratamento na Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
Em meados de julho, começaram as obras para o novo aterro sanitário paulistano, a Central de Tratamento de Resíduos Leste (CTL). O projeto está sob o comando da Ecourbis Ambiental, uma das responsáveis pela coleta de lixo e destinação dos resíduos na capital (leia o item Coleta, acima à dir.). O empreendimento funcionará dentro de uma área de mata Atlântica, perto do saturado São João
LIXO
Atualmente, nos grandes centros urbanos, a geração de resíduos sólidos cresce mais do que a população. Cada paulistano produz 351,41 kg de lixo por ano, em média. Traduzindo: quem viver até os 70 anos terá descartado 25 toneladas de detritos. Número que poderia diminuir drasticamente se, das 18 mil toneladas recolhidas por dia, os 35% de materiais recicláveis realmente passassem por esse processo (hoje, menos de 1% é de fato reciclado). A negligência custa caro: em São Paulo, a despesa anual com limpeza urbana ultrapassa R$ 760 milhões.
COLETA
Na capital, 100% desse serviço é terceirizado. Em 2004, duas empresas venceram a concorrência pública que assegurou a concessão por 20 anos, no valor de R$ 9,8 bilhões. A Ecourbis é responsável por atender 1,6 milhão de domicílios da região sudeste, formada por 18 subprefeituras. Já a Loga atende a região noroeste da cidade, com 13 subprefeituras e 1,4 milhão de domicílios.
TRANSBORDOS
São pontos de destinação intermediários criados em função da distância entre a área de coleta e o aterro sanitário. É onde fica o lixo descarregado dos caminhões compactadores e que depois segue adiante. Hoje há três Estações de Transbordo na cidade de São Paulo.
LIXÕES
Locais onde os resíduos sólidos são despejados diretamente no solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública. Acarretam problemas como a proliferação de vetores de doenças (moscas, mosquitos, baratas e ratos) e a poluição do solo, de rios e lençóis freáticos através do chorume (líquido produzido pela decomposição da matéria orgânica contida no lixo).
ATERROS SANITÁRIOS OU CONTROLADOS
Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), um aterro sanitário é caracterizado pela disposição de resíduos sólidos urbanos no solo sem causar danos ou riscos à saúde pública, minimizando os impactos ambientais. Utilizam-se técnicas para confinar os resíduos e cobri-los com terra, camada por camada. Esses locais produzem biogás e chorume por até 20 anos, necessitando de constante manutenção.
INCINERADORES
Reduzem o volume de resíduos e destroem micro-organismos encontrados principalmente no lixo hospitalar e industrial. Depois da queima, o material restante pode ser encaminhado para aterros sanitários ou reciclado. A incineração é uma boa alternativa, desde que dentro de um programa de cogeração de energia.
CATADORES
Nas ruas de São Paulo existem mais de 25 mil catadores de lixo reciclável. As embalagens são separadas nas centrais de triagem pelas cooperativas associadas à prefeitura, que, por sua vez, vende o material para empresas. Segundo o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (www.mncr.org.br), há 94 grupos organizados na capital.
CENTRAIS DE TRIAGEM
São os galpões ou cooperativas que recebem material reciclável recolhido por caminhões de coleta especializada ou por catadores autônomos ou conveniados. Hoje existem 15 Centrais de Triagem em funcionamento na cidade.
USINAS DE RECICLAGEM
Possuem máquinas como esteira rolante, eletroímãs e peneiras. Funcionários separam da massa principal de lixo o que será transformado em adubo pelas usinas de compostagem e itens recicláveis para empresas compradoras.
EMPRESAS COMPRADORAS
Adquirem os materiais recicláveis sortidos nas usinas, tais como papéis, metais, plásticos e vidros, para fabricação de novos produtos.
USINAS DE COMPOSTAGEM
Recebem os resíduos orgânicos presentes no lixo vindos das centrais de triagem e os transformam em adubo, reduzindo o volume destinado aos aterros.
POSTOS DE RECICLAGEM
• Plástico, Papelão, Vidro e Metais: Muitos lugares, como postos de bombeiros, supermercados e Pontos de Entrega Voluntária Monitorados (PEVM), recebem material reciclável.
• Óleo de cozinha: www.ecoleo.org.br.
• Tetra Pak: www.rotadareciclagem.com.br.
• Eletroeletrônicos: www.cempre.org.br/eletroeletronicos.
LUGAR DE LIXO NÃO É NA MATA
O novo aterro funcionará em uma Zona Especial de Preservação Ambiental (Zepam) de 4 milhões de m², lar de aves e pequenos animais silvestres. Embora a Ecourbis, responsável pelo projeto, prometa um amplo programa de compensação ambiental na região e o licenciamento tenha passado por um rigoroso processo que inclui audiências públicas, avaliação pelo Ministério Público e aprovação por órgãos como a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e o Ibama, especialistas estranharam. "Um aterro jamais deveria ocupar uma área de proteção ambiental ou de preservação permanente", diz Francisco Eduardo, diretor do Instituto Aryran e consultor de responsabilidade socioambiental.
NOVAS REGRAS PARA TODOS
Em julho foi aprovada no Senado a lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS. Agora, a responsabilidade sobre os resíduos cabe a todos: governo, empresas e cidadãos. Os municípios, por exemplo, ganham obrigações no sentido de banir lixões e implantar sistemas para a coleta de materiais recicláveis nas residências. E passa a valer a chamada "logística reversa", ou seja, consumidores podem de-volver aos fabricantes produtos como embalagens de agrotóxicos, pilhas, baterias, pneus, lâmpadas e eletroeletrônicos como computadores e celulares para que eles os reciclem. A lei ainda proíbe a importação de qualquer tipo de lixo. "É um marco regulatório importante que irá reforçar o comprometimento de empresas e cidadãos com a quantidade absurda de lixo que produzimos por dia", diz Ariovaldo Caodaglio, presidente do Sindicato de Limpeza Urbana no Estado de São Paulo. "A lei consagra no Brasil o viés social da reciclagem ao reforçar o papel das cooperativas de catadores como agentes da gestão do lixo", completa Victor Bicca, presidente do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre).
Fontes: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), Ministério das Cidades, 2008, e Secretaria do Tesouro Nacional, Ministério da Fazenda, 2006 - com base em relatório elaborado pela PricewaterhouseCoopers sob contratação do Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana no Estado de São Paulo (Selur) e da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP), concluído em abril de 2010.
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